terça-feira, 15 de maio de 2012

O meu balanço



Já muito foi escrito e muito se escreverá, deixo aqui o meu balanço e sigo para "férias", que é o mesmo que dizer, o marasmo futebolístico. É que nunca gostei dos meses antes da pré-época. É certo que temos ainda uma final da Champions e um Euro, mas ao que ao Porto diz respeito, serão meses em branco, isto porque o nosso clube consegue ser chato (ainda bem) no que a notícias de peso e reias dizem respeito. Pinto da Costa e os seus fazem do segredo a alma do negócio e só muito perto da pré-época é que eu julgo poderá haver novidades.

Avancemos.

Após uma época histórica o Porto tinha uma oportunidade de ouro em atacar todas as provas com grandes ambições. Tinha treinador e tinha jogadores. No entanto, a saída de Villas Boas, da forma que foi e na altura em que aconteceu, foram um rombo forte que afundaria qualquer navio. A opção Vítor Pereira, na minha opinião, na altura foi lógica. Daria continuidade ao trabalho desenvolvido e minimizaria os estragos no grupo com os jogadores a quererem sair para o contrato da vida deles. Infelizmente, neste último ponto, viu-se rapidamente que algumas estrelas queriam saltar fora. Falcao saltou e aí começaram os primeiros problemas.
O plantel de VP estava manco. Atacar uma época apenas com Walter e Kléber foi suicida. O processo Falcao, que se arrastou até às primeiras jornadas minou o grupo e nem a direcção nem o treinador souberem gerir e precaver tal cenário. Depois, devido a esse mesmo cenário, a excessiva rotatividade do 11 titular nos primeiros jogos deteriorou e muito a ambição do grupo, quer individual quer colectivamente. VP não teve mão em jogadores que deram muito ao Porto no ano anterior. No fundo cometeu o erro que Villas Boas cometeu no Chelsea, ficou a meio caminho entre a continuidade e o corte com o passado. O Porto do início do ano era retalhado. Concordando-se ou não, eu aceitaria que VP optasse por uma revolução total em vez da mixórdia que escolheu. A mixórdia custou-nos a Europa e a Taça de Portugal, com eliminações de vergonha. Sim, mais que as eliminações, no futebol tudo pode acontecer, foi a forma como saímos da Champions e da Taça. Na Liga, o futebol era irregular e em Barcelos bateu-se no fundo.
O mercado de Janeiro foi o ponto de viragem e aí o mérito é da Direcção. Não deixo de ser crítico quando à dispensa de certos jogadores e à razia que sofreu o meio-campo, mas admito que o plano traçado do pragmatismo total funcionou e foi o melhor dadas as circunstâncias. A chegada de Lucho foi fundamental e notou-se logo que o objectivo era o campeonato. O futebol do Porto não empolgou, tal como no início, mas tornou-se muito mais eficaz. Não é estar a favor ou contra VP, o que eu digo é que o Porto estava em maus lençóis e reagiu segundo uma estratégia. Concordando-se ou não, a reacção resultou e o Porto venceu os jogos que tinha de vencer, vacilando ainda aqui e ali, mas notava-se também que a concorrência nunca foi o que se dizia, e por isso, ser campeão foi o prémio justo para uma equipa que noutro lugar qualquer, acabaria sem nada.
Como adeptos temos de continuar a criticar quando é de criticar, mas também temos o dever de destacar o que se alcançou e as razões para tal. VP é um Jesualdo na minha opinião: um treinador certinho quando as coisas correm bem mas incapaz de imaginação quando as coisas correm mal. Mas é bom não esquecer que Jesualdo foi três vezes campeão, e eu não me importo de o ser de novo, até porque também não me é doloroso se o Porto "apenas" vencer uma competição europeia de 5 em 5 anos. Cada vez mais o realismo impera, e o Porto sempre foi mestre nisso. Olho para este plantel e não o vejo capaz de atacar uma Champions a sério, logo, ser campeão não foi mau, foi até muito importante para de cabeça lavada atacarmos a época seguinte.
Admito leituras diferentes destas claro, mas julgo que os dois momentos marcantes da época foram de facto a saída "intempestiva" de Villas Boas, que levou à "deserção" de Falcao e à instabilidade do grupo, e num segundo momento o mercado de Janeiro e a viragem ao "pragmatismo" que nos levou ao título. Se o primeiro momento condenou a equipa a uma época difícil e irregular, o segundo momento, provou uma vez mais que este é um clube de vitórias e de uma competência (a palavra!) extrema.

Apreciação individual ao plantel (num tom mais descontraído, menos analítico, no fundo, um exercício do meu portismo emotivo e do meu amor pelo futebol, para ser levado como tal):

Hélton - não gosto do estilo. Gostava do Baía, gosto do Artur, do Czhe (nunca sei escrever), isto é de guarda-redes sólidos sem grande espalhafato. Mas o que é certo é que este menino tem sido de uma regularidade impressionante nos últimos 6/7 anos. Fez duas épocas excelentes. Por vezes, a sua maluquice (e não falo das reviengas que faz, até agora nunca sofreu um golo devido a isso), faz-lhe sofrer golos estranhos, mas tem segurado a baliza como poucos.

Bracali - a custo zero foi bom negócio, tem qualidade e parece que trabalhou bem. Foi pena o Porto não ter feito mais na Taça e não ter ido à final da Tacita. Não o vejo como o futuro da baliza, mas é bom ter profissionais destes no grupo.

Kadu - é sempre bom ter marmanjos grandes no banco de vez em quando para o caso das coisas aquecerem. Parece-me que é mais um daqueles guarda-redes que o Porto forma e depois desaparece.

Sapunaru - fez um ano irregular mas cumpriu quando foi chamado. Terá tido problemas disciplinares reaparecendo apenas no fim com classe. Tem o espírito do Porto, mas é nitidamente um jogador que precisa de liderança para render, senão é apenas um romeno à solta.

Danilo - soube a pouco devido à lesão, mas tem tudo para render milhões. A questão é que ele já custou milhões, para o ano tem de ser dos esteios do 11 titular.

Álvaro Pereira- era complicado repetir o ano fantástico do ano anterior, mas foi cumprindo até se notar que as pilhas estavam a acabar. Portou-se mal no fim e parece andar mais interessado nas bocas aos jornais. Se sair que saia, foi um belíssimo jogador que serviu bem o Porto. Se ficar é necessário uma reciclagem mental.

Rolando - tenho carinho por este central. Foi sempre melhor do que se esperava apesar de mal amado pela imprensa. Este ano teve vida difícil com uma concorrência esfomeada. Coloco-o na mesma situação que o Palito. Mas não me esqueço que é um dos homens importantes no plantel e que já conquistou muito.

Otamendi - época aos soluços. Terá as melhores qualidades de todos os centrais, mas também comete os erros mais escandalosos. Talvez por excesso de confiança ou falta de trabalho. O exemplo de Maicon deveria ser-lhe útil: fazer apenas o que sabe e não inventar.

Maicon - grande época. A defesa direito esteve bem, apesar do ruído. Quem esperasse que ele fosse um Daniel Alves não é deste mundo. quando VP encostou-o à direita o rapaz defendeu bem e evitou atacar graças a Deus. A central esteve muito bem. É daqueles que se mantiver a humildade e fazer apenas o que sabe lá atrás, é um muro excelente na defesa do Porto.

Mangala - 19 anos! Bom ano de estreia. Errou sim, mas é agora que tem de errar para aprender. Tem tudo o que gosto num central dos dias de hoje.

Alec Sandro - não gostei dos primeiros jogos, mas acabou em grande. Tipicamente brasileiro, sem medo de ambientes e com vontade de ter bola. Pode ter futuro, desde que não exagere no samba.

Fernando - jogador fundamental no Porto. Aliás, com Costinha e Paulo Assunção, o Porto criou um trinco-dependência ainda por decifrar. O polvo tem 25 anos e joga muito. É certo que a cabeça por vezes anda no ar, mas em forma é dos melhores trincos que já vi. Já nem sequer desejo que melhore o "passe", é deixá-lo como está que é dos melhores.


Moutinho - após um ano de outro mundo, Moutinho cumpriu. Não sabe jogar mal mesmo quando não está bem.

Defour - não o vejo como um grande jogador, mas um plantel precisa destes rapazes assim, certinhos e cumpridores. Dá estabilidade e é uma opção válida.

Lucho - torci o nariz ao seu regresso, mas para além da classe que sempre teve, o espírito de luta convenceu-me. A qualidade que dá à equipa é imensa. A minha pergunta é o que fará para o ano? É que tudo pesa e Lucho não é jogador de banco. Tem de estar muito bem, de novo.

Belluschi - o meu jogador favorito, coisa minha. Já escrevi tanto sobre ele que hesito em repetir-me. Eu sei que não é consensual e mesmo dentro de mim, sei que foi positiva a sua saída, mas tenho pena. Gosto de jogadores como Belluschi, onde cada ideia de passe é para acabar em golo. Este ano, no pouco que jogou notava-se a tristeza, mas no naufrágio de Barcelos, foi o único jogador a sério do Porto. Não sei se tem espaço para regressar, mas que eu gosto dele, lá isso gosto.


Guarín - lesionado no início queira jogar. Pesado e lento fez birras. Uma pena, mas ainda mais que o Sapunaru, Guarín precisa de liderança e de um polícia, se não é apenas um gordo à solta.

Souza - não gosto. O futebol na Europa joga-se rápido (um conceito que dava pano para mangas). Este rapazola tem bons pés, mas eu, no distrital da Associação do Porto também tenho e jogo contra muitos que têm... ainda assim estão no distrital... e bem...

James - um craque. Não gostei dos últimos tempos onde fez da piscina o seu desporto. Tem de perder esse vício rapidamente sob pena de não ser levado a sério. De resto pode queixar-se que o treinador o tirava quando estava bem e o punha quando não estava tão bem. Ainda assim é dos responsáveis do títutlo com golos e um esclarecimento acima de todos os outros na pior altura da equipa.

Cristian - foi embora. Lutava muito, mas o estatuto que tinha requeria outra qualidade. Acho que falhou mais do que o que acertou.

Varela - perdeu o perfume algures. Notou-se que batalhou para o reencontrar mas sem grande sucesso. Espero que o Euro lhe faça bem porque era importante um bom Varela no plantel.

Iturbe - a incógnita. Não sei se é bom ou mau. O pouco que se viu não dá para nada. Foi completamente fragilizado pelo treinador. Não sabemos como correm os treinos, mas com a empatia que tinha com o público, houve jogos em que podia ter sido lançado para se ver o que ali estava. Estamos a falar de um jogador que pode valer muito, este ano desvalorizou-se quase por completo. Não sei se vale a pena manter-se mais um ano se é para jogar tão pouco.

Djalma - foi mais importante do que se pensa. Na tal pior altura do Porto, o angolano cumpriu e tem qualidades úteis para atacar as competiçães internas. Não podemos apenas querer Hulks e James. Por vezes são necessários Djalmas com fome e genica. Na minha opinião merece ficar.

Walter - as estatísticas são boas. As de Farías também eram. E por serem boas foi pena desperdiçar-se um avançado numa equipa sem avançados. Claro que desmoralizou e que se calhar não treinava a sério, mas para isso é que se quer uma estrutura competente. Foi, paciência, não me parece que volte, também não me importa.

Kléber - nunca deveria ter sido o substituto de Falcao sem Falcao. Tenho para mim que Kléber pode vir a ser um belíssimo avançado, e este ano fez-lhe falta ser o suplente "do" avançado que nunca veio. Ainda assim fez 10 golos este ano. Aos 21 anos não me parece mau de todo, sobretudo depois de uma lesão e de muito tempo no banco, numa época irregular da equipa. Deposito esperanças, mas temo que esteja demasiado ligado ao treinador e que possa com isso ser prejudicado.

Janko - a mim não me convence, mas é óbvio que ainda é cedo tirar conclusões. Chegou e fez alguns golos, mas angustia-me a forma como se movimenta em campo. eu, que me considero, um apreciador de pontas-de-lança, vejo em Janko quase tudo do que não gosto (como o Hugo Almeida). Espero enganar-me. Podia também deixar o facebook e o twiter em paz.

Hulk - infelizmente foi o homem do ano. Digo infelizmente, porque foi o melhor pelas razões erradas. Fez jogos maus onde ainda assim resolveu. No Porto do ano anterior, o Hulk fez grandes jogos sem "resolver" porque a equipa estava bem. Este ano, a equipa esteve mal e ele mal esteve, só que tem mais força e talento que muitos dos plantéis juntos, e isso fez a diferença. Em Portugal será sempre decisivo, nunca será mau tê-lo connosco, mas é um desperdício tê-lo cá se a equipa não estiver bem.


E é isto. Bom defeso a todos.

13 comentários:

  1. Bom artigo. Parabéns e Viva ao Porto !! :)

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  2. Gostei muito, apesar de naturalmente não concordar com tudo. Eu também gosto muito de Belluschi, especialmente por ser aquele tipo rarissímo de jogador valente, que não se protege atrás do passe para o lado ou para trás (olá Moutinho), mas pelo contrário procura sempre o risco, a ruptura, o golo. Infelizmente, duvido que alguma vez o vejamos mais com a nossa camisola.

    Que história é essa de "bom defeso"? O Café não vai fechar para férias, cada vez temos mais a comentar!

    Abraço

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  3. "Bom defeso" a comentar :)

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  4. Boa análise, apesar de não concordar com tudo. Gostava também de expressar a minha satisfação pelo facto de no seu texto estar escrito por duas vezes "a sério" e não o disparate do "à séria" que de um dia para o outro todo o mundo começou a dizer...

    Cumprimentos Portistas da Caparica

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  5. Obrigado pelas apreciações... "à séria"! :)

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  6. Grande Filipe, o meu balanço sobre este Post: Brilhante!

    Concordo com a maior parte, mas especialmente com Helton, Fernando, Lucho, James,, Kléber e Iturbe. Rolando, Álvaro e Rodriguez podem tentar ser felizes noutro lado.

    Partilho do sonho de vê o belluschi regressar, mas acho que é mais provável que o "gordo-à-solta-Guarín" seja devolvido...

    Zero, eu adoro o belluschi, mas compará-lo com o Moutinho não é...honesto. Pensava que Essa embirração que tens com o Moutinho já tinha passado... É um jogador nuclear no FCP, mesmo quando não está bem, como nota o Filipe. Alguém já se deu ao trabalho de contar o número de jogos que ele fez nestas duas épocas?....

    Este vídeo pode ajudar... http://www.youtube.com/watch?v=qTJE7QuASmQ&sns=em

    Abraços.

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  7. Apesar de não concordar integralmente com a análise... parabéns pela dita!!!

    Mas... e Fucile???

    Saudações desPortistas!!!

    P.S.: Parabéns ao Café que consumo diariamente apesar de intervir pela 1.ª vez!!!

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  8. Meu caro amigo Bruno BP,

    Considerar que o Moutinho não é mais de que um jogador competente, abaixo do estatuto de vaca sagrada de que goza no FC Porto, não é "uma embirração". Segundo creio, chama-se a isto "uma opinião diferente da tua". Que é, diga-se de passagem, muito própria aos defensores de serviço de vacas sagradas.

    Da mesma forma, comparar o Moutinho ao Belluschi não me parece "desonesto". Parece-me uma comparação passível de ser feita entre dois jogadores de futebol, que por acaso ocupam as mesmas posições no terreno, e têm ambos contrato com o FC Porto. Lamento se ultrapassei os limites que estabeleceste para as comparações "honestas", não os conhecia, mea culpa. Com quem posso honestamente comparar o Belluschi então? Ele tem algum irmão gémeo?

    Sabes, é que eu gosto de Belluschi precisamente porque ele tem aquilo que Moutinho não tem - o risco, a inteligência da ruptura, o desequilíbrio repentino da ordem, o remate de longe forte e colocado. Não por acaso Belluschi faz assistências e cria golos (e marca alguns, sempre bonitos). É um artista, e eu gosto dos artistas. Pelo menos gosto mais dos artistas do que dos funcionários certinhos, competentes, assíduos, que estão lá sempre é certo, mas raramente sobressaem.

    O FC Porto é uma equipa de ataque, nós não podemos só defender bem, mas os portistas têm atualmente uma relação muito conturbada com todos aqueles jogadores que jogam do meio-campo para a frente. Realmente, parece que nenhum nos serve. Alguns até querem despachar o James...

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  9. Amigo Hugo, aka Zero,

    Opiniões diferentes são sempre salutares, desde que estejamos a remar para o mesmo lado e movidos pelos mesmos objectivos: analisar o que de bom e menos bom teve o nosso FCP este ano.

    Eu não estabeleci limites alguns para a honestidade das comparações. Aliás, em matéria de critérios editoriais e de preferências estéticas em vigor neste estabelecimento, nunca envidei o mínimo esforço para os definir e, sempre que necessário, manifestarei a minha discordância quanto à sua imposição, seja uma fotografia de um árbitro ou a simples escolha do título de um post.

    Dito isto, acho que não é honesto comparar o Belluschi com o João Moutinho pois, precisamente, são ambos jogadores de meio-campo, como bem dizes, mas que ocupam posições diferentes e com graus distintos de importância na equipa. O Moutinho é, na essência, um 8 clássico, um box-to-box, com uma disponibilidade física, uma presença táctica, uma referência posicional e uma qualidade de passe e de controlo de jogo como existem poucos. Pode igualmente fazer (bem) a posição 6 e ainda (menos bem) a posição 10, aquela que considero ser a de Belluschi, um fantasista, um desequilibrador, que arrisca e marca golos monumentais como aquele no Dragão, depois de fazer um túnel ao (C)Aimar. São jogadores distintos, mas de uma complementaridade da qual muito beneficiou o tal Porto de ataque de que falas (sobretudo com AVB).

    Daí considerar que se estão a comparar coisas que não são comparáveis. Se comparares ambos a jogarem a 10, estou100% de acordo contigo. Mas para isso terias de comparar o Belluschi a jogar a 8 ou a 6. O que me parece, salvo opinião diferente e melhor do que a minha, injusto para o samurai.

    E se quisermos usar como parâmetro de comparação a importância de um e outro na equipa do FCP nas duas épocas em que foram companheiros de meio-campo, penso que também seria desonesta, pois ambos foram fundamentais, ainda que em momentos distintos e de formas diversas. E também por isso fomos campeões, ganhámos a Liga Europa, and so on...

    Eu gosto de artistas. Mas também gosto do Fernando. Eu gosto de fantasistas, de passes de ruptura. Mas também gosto do Maicon. Adoro o Lucho. Mas não o compararia com o Meireles. Nem o Meireles com o Paulo Asdunção.

    A tua embirração com o Moutinho não é de agora. E tens todo o direito a ela. Eu embirro com o Otamendi. E com o Fucile. Embirro com a "mosca" do Vítor Pereira. Acho que, se o Baía ainda fosse director no nosso Clube, não se usavam gravatas azuis com camisas azuis nem camisolas com cotoveleiras.

    Eu até acho que o Moutinho será daqueles que mais facilmente baterá com a porta no dia em que lhe façam uma proposta mais aliciante. É da vida e do carácter. Mas acho da mais elementar justiça e objectividade que reconheçamos a importância que teve nas conquistas do FCP desde que chegou ao clube.

    Ao mesmo tempo que juramos amor ao Belluschi e nos perguntamos como foi capaz de perder a titularidade para o Guarín. Mas isso, lá está, entra nesse fascinante domínio da pluralidade de opiniões, que está no código genético não escrito deste Café.

    Abraço e bom defeso.

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    1. O que é um 10?
      Reaviva-me a memória porque já não me lembro bem, dado que o FC Porto não joga com número 10 desde maio de 2004, quando vendemos um tal Anderson Luiz de Sousa ao Barcelona. Aliás foi esse um dos problemas (públicos) de Diego ou Anderson no FC Porto, poucas vezes eles jogaram na sua posição "natural".
      Felizmente temos vistos bastantes jogos juntos, senão ficaria a indagar porque é que não te apercebeste que o FC Porto não tem essa posição na sua tática, seguindo aliás o que aconteceu por toda a parte no futebol moderno, com bolsas de resistência centradas sobretudo em jogadores brasileiros. Nem o próprio Messi é um 10, a propósito.
      Isto para dizer que as únicas diferenças na posição de Moutinho e Belluschi são a tendência, durante os jogos, para que o primeiro jogue mais preferencialmente pelo lado esquerdo e o segundo pelo direito. E claro, Belluschi também se adianta mais pelo seu lado, dado que é menos disciplinado taticamente, defende pior, e tem sempre a baliza adversária em mente.
      Sim, Belluschi "é" um 10. Mas não "joga" a 10 (pelo menos nunca o fez no FCP, gostaria de saber o que se passa em Génova), o que só abona a favor da sua qualidade, porque é obrigado a um futebol muito mais realista daquele que é talhado para jogar (e daí perder o lugar, mesmo que injustamente, para um Guarín). O futebol de Moutinho... o futebol protegido, do passe para o lado.
      É sintomático que o elogio obrigatório feito ao holy ox Moutinho rode em torno do adjetivo "importante". Não duvido que o seja, e compreendo a escolha: de facto, se ponderarmos sobre a resposta às questões Moutinho é criativo?, dribla bem?, tem bom tackle? é particularmente rápido?, impõe-se fisicamente?, faz muitas assistências?, marca golos?, joga bem de cabeça? verificamos que a resposta é sempre a mesma. Mas Moutinho corre muito, e isso é "importante" no futebol atual, dá visibilidade e faz-te tocar muito a bola. Eu, que acho que uma boa equipa precisa de um Moutinho, também acho que uma grande equipa precisaria antes de um Moutinho+. Sobretudo porque foi por um Moutinho+ que pagámos 11 milhões e pagamos todos os meses 150 mil euros, o segundo salário mais alto. O dobro do de Belluschi.
      Abraço.

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    2. Não tenho a mínima pretensão de alterar a tua embirração com o Moutinho. Aliás, inadvertidamente, sublinhaste a importância do Moutinho (sem que eu ouse questionar a do Samurai): numa equipa que não joga com um10, ter um jogador que faça várias posições no meio campo é preponderante. Moutinho foi Moutinho + num grande FCP e foi Moutinho num FCP de mínimos olímpicos.. Belluschi fez uma época notável com AVB pois este compreendia que, no sistema táctico do FCP à época, Belluschi podia ser o "vagabundo" criativo que cria oportunidades, marca golos fabulosos, faz assistências apenas ao alcance de predestinados. Moutinho não faz isso. Mas torna-o possível a quem sabe. Ou seja, Moutinho torna possível o melhor Belluschi que vimos, e Belluschi no seu esplendor tornou, para mim, evidente a importância de um jogador como Moutinho. Repara que, de todos os tridentes de meio-campo que o FCP teve nas duas últimas épocas o único elemento que se manteve constante e a jogar a um nível apreciável foi sempre Moutinho.

      O actual treinador do FCP não soube potencial essa complementaridade entre equilíbrio e explosão. Perdeu o FCP em criatividade e fulgor ofensivos.

      A palavra final é tua, amigo. Sei que isso te deixa feliz. Eu gosto do Moutinho e preferia que o Belluschi voltasse. Mesmo que só saiba jogar a 10, isso encantava-me.

      Abraço.

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  10. Caro Filipe,

    Excelente análise. Tenho uma visão muito próxima desta sobre o que se passou este ano e sobre o plantel.

    O Rodriguez já foi e o Guarin também (felizmente e os €uros são bem precisos), o Álvaro Pereira e o Rolando deverão ser os próximos. O Beluschi parece ter seduzido os Genoveses e também não deve voltar.
    O Hulk parece impossível de manter.

    O Fernando é, para mim, a grande incógnita e receio. Receio porque para mim é o melhor que o Porto já teve e está no top five no mundo, mas já mostrou (não recentemente, ainda bem) que quer outros voos.

    Se as vendas que referi se concretizarem, não será por dinheiro que terá que ser vendido. Seremos capazes de o conseguir manter e motivado?

    Fala-se muito do Hulk, e com razão, mas não se dá o devido valor ao Fernando. Para mim foi o mais importante da época pois evitou o desastre nuns 7 ou 8 jogos em que não jogámos nada e ele foi, de longe, o melhor.

    Já são muitas vendas, o que não é nada comum no Porto (Fora o pós 2004).
    E ainda há as questões Miguel Lopes e Fucile (com o Danilo, temos 4 laterais na direita!) para resolver, bem como a de Walter.

    Este defeso promete!

    Temos potencial para ter uma bela equipa no próximo ano. Há apenas que despachar os descontentes (que iam deitando o campeonato a perder), fazer regressar alguns como o Atsu (muito bom!), o Kelvin (talvez) e aquele nosso miúdo central dos sub-20 que dava um belo 4º central e fazer algumas, poucas, comprar cirúrgicas.

    Um PL, reforço de meio campo e uma alternativa ao Alex Sandro.

    Parabéns ao donos do tasco pelo Blog. Do melhor da bluegosfera.

    PeLiFe.

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