segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Carta Aberta a Pinto da Costa

Caro Presidente,
Permita-me o tom um pouco mais coloquial, e portanto dispense-me dos V.Exas e afins.
Decidi escrever-lhe hoje, depois de algumas semanas de acumulada frustração por não ter um grama de vontade de falar (e escrever) sobre o nosso clube.
Pinto da Costa (foto ASF)

Porque imagino que o seu tempo é precioso, passo por cima dos episódios do encerramento do basquetebol profissional , dos salários em atraso (pelo menos) no hóquei, dos negócios ruinosos com objectivos pouco claros, dos estratosféricos salários da SAD, das contas preocupantes, da inexistente política de formação...
Falo-lhe de futebol, e digo-lhe frontalmente que há mais de um ano que não me revejo na nossa equipa, não me tenho revisto no nosso clube.
Na época passada, época de abertura deste nosso café das antas, fui sendo embalado por uma equipa que oscilava entre o queria-mas-não-podia que denotava falta de qualidade no trabalho diário e, para meu espanto porque contra-natura, um podia-mas-não-queria, arrogante e sobranceiro.
Dir-me-à: fomos campeões! Fomos, mas não à Porto.
Acreditei até ao último dia que VP não seria o nosso técnico para esta época, wishful thinking como me disse o BP algumas vezes... Acreditei que o Presidente, que leva tantos anos disto como eu de vida, homem experiente, perceberia que a equipa nao tinha líder, que o nosso Porto não jogava à Porto.
Como criador do conceito, saberá melhor do que ninguém o que isso significa: raça, humildade, empenho, dedicação e paixão. São palavras suas....
.
Esse é o meu Porto, o que me levou às Antas em muitas tardes de sol, em muitas noites de dilúvio, nos tempos em que ir ao futebol  em jornada chuvosa e não saír do estádio completamente encharcado era um sonho que demoraria anos a concretizar.
Hoje vejo uma equipa acomodada, amorfa, sem vontade de ganhar, sem AQUELA vontade. A vontade dos Joões Pintos, dos Andrés, dos Jorges Costas e Baías. Dos Frascos, dos Quins, dos Limas-Pereiras... Muitos a quem o que faltava em talento sobrava em raça, humildade, empenho, dedicação e paixão.
Onde andam esses homens?
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Onde está esse espírito?
Os tempos mudaram, certo. O dinheiro é hoje, mais do que nunca, o combustível que faz mover esta máquina. O futebol é cada vez mais parecido com a Hollywood americana, em que vedetas pagas a peso de ouro garantem as receitas de que os clubes necessitam. Entendo isso.
Mas sabe o que eu acho que aconteceu?
Aburguesamo-nos.
Os nossos defesas direitos já não podem vir do Avaí ou do Paços de Ferreira, não... Vêm directamente da selecção brasileira.
Os nossos médios são do melhor que há no mundo, os nossos avançados custam 9 milhões de Euros e já não nos servem austriacos esforçados.
Sabe o que eu acho que nos faz falta?
Mais Kikis. (para os mais novos, ide ao google!)
 
Este tipo era... sofrível!
Mas tinha uma enorme virtude: punha a nu as fragilidades da equipa que também por isso se via obrigada a correr mais que os outros, a morder os adversários a, como se dizia naquela época, comer a relva.
E era assim que o Porto ganhava, não porque tinha mais dinheiro que os outros, não porque tinha melhores planteis... Ganhava porque queria ganhar, mais do que os outros.
Quem ainda se lembra deste senhor?
E deste?


A distancia para os dias de hoje é abissal...
E ainda bem, estes tipos, com todo o respeito, eram muito maus!
Mas ainda assim iamos a finais europeias, ganhavamos campeonatos e jogavamos à bola com vontade, como se o nosso futuro estivesse em jogo. E, deixe-me dizer-lhe que de alguma forma estava... o nosso futuro como entidade regional, o Porto clube/cidade/região estava a erguer-se no pós 25 de Abril e era o FCP o seu mais brilhante símbolo e vivo representante.
O que nos falta, Presidente?

Nesta fase final do seu mandato à frente do nosso clube, gostava de lhe fazer um último pedido, um último projecto a concretizar:  escolha bem o seu sucessor.

A esse conte, se ele não sabe, as suas aventuras nos 70s, relate as primeiras vitórias dos 80s, explique a consolidação dos 90s, a profissionalização dos 2000 em diante.


Depois disso e urgentemente, encontre um treinador à Porto, forme-o com tempo  mas escolha bem, não se apresse. Sei que sempre gostou de se rodear de grandes homens...

Assegure-se que essa pessoa entende o que é o Porto e porque somos diferentes.





A partir daí, nada tema: a sua obra será imortal e o nosso FC Porto estará preparado para os próximos 50 anos.
O Porto será o Porto, vai ganhar mais do que os outros e representar de forma ímpar a nossa cidade e a região
E enquanto houver um portista com memória, nunca perderemos a raça, a humildade, o empenho, a dedicação e a imensa paixão por este clube!

Um abraço,
Pedro

1 comentário:

  1. Basicamente estás preocupado com o completo descaraterizar da equipa. O fenómeno não é de hoje e é uma consequência direta do famigerado "modelo"...

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