terça-feira, 29 de novembro de 2016

Fim

Não vale a pena rodear a questão - o FCP, como o conhecemos ao longos dos últimos 20/30 anos, acabou. 

Ou melhor, a liderança que o catapultou para o topo do futebol nacional, europeu e mundial deixou de perceber que o FCP é hoje muito mais que a luta contra o centralismo, o outsider, o clube que faz da crítica e do escárnio alheios a sua força e motivação para vencer cada vez mais. 

O Presidente do FCP deixou de compreender que a receita está  esgotada, que o modelo foi copiado com sucesso, que o discurso está estafado, que apenas por medo, reverência extrema ou cegueira é que a crítica não se assume em alternativa. 

O problema não é (apenas) Paulo Fonseca, Lopetegui, Peseiro ou Nuno Espírito Santo. O cerne da questão está no aburguesamento de um clube que era modesto, sem sinais exteriores de riqueza que não os títulos, lutador e não sobranceiro, que tinha uma mística, uma missão e um conjunto de valores aos quais os jogadores tinham de aderir ou não serviam, ao invés de uma manta de retalhos de mercenários e estrelas de caderneta sem dimensão para um clube com este carisma.

A dificuldade não é apenas que os nossos rivais tenham copiado partes do nosso modelo com grande sucesso (saber contratar bem, de forma cirúrgica, planeada com duas épocas de avanço, vender melhor, atacar o mercado com determinação), mas sim que nos deixámos ultrapassar sem luta, enebriados por um rol de conquistas que fizeram acreditar que o Presidente e sua visão eram eternos, que nunca seríamos ultrapassados pois ele seria o último reduto, o salvador que recolocaria. 

O erro é achar que, por termos Pinto da Costa como Presidente, poderíamos atacar uma época decisiva como esta com um banco que tem Depoitre e Varela como opções de ataque. Que poderíamos dispensar Bueno, ficar com Adrian, contratar Depoitre e deixar sair Aboubakar, Paciência, Hernâni, Quintero, Ricardo Pereira. O FCP 2016/2017 tem um avançado no plantel: apesar de André Silva ser um excelente jogador, tem 21 anos, jogava na equipa B, jogou TODOS os jogos desta época e não tem concorrência. É isto ser Porto?

Pinto da Costa chegou ao fim e isso torna-se evidente não apenas pela força alheia, mas pelas fraquezas próprias. É incapaz de dar a volta a esta situação e, arriscamos dizer, o FCP não voltará a ser campeão enquanto se mantiver como Presidente.

No futebol moderno, não bastam frase sonantes de anti-centralismo, de tiradas sobre os (então) moribundos rivais para fazer rejubilar as massas. No futebol moderno, os rivais trabalharam na nossa sombra, durante anos, para aproveitarem este momento de fraqueza que esperavam, mas que talvez não antecipassem que fosse tão acentuado da nossa parte. O presidente do atual campeão nacional ganhou 5 títulos nacionais em 16 anos - magro pecúlio, pelos nossos padrões, que ganhámos idêntico número em 5 época seguidas. Porém, é glorificado como o artífice de uma nova hegemonia. 

Nós ainda não percebemos que a última coisa que nos preserva é o respeito, o temor reverencial que ainda têm por nós, mas que, a cada Suk, Marega, Herrera, Depoitre, Peseiro, Lopetegui, etc etc etc, se vai perdendo. Porém, a teimosia do grande líder que foi Pinto da Costa fá-lo-á ficar, crente de que só ele poderá voltar a ganhar, isolado e sozinho (yes men e comissionistas não contam como vozes críticas), mas com o discurso que entende que ainda pega. A culpa era de Lopetegui e Imbula há uns seis meses. Há quanto tempo é que o FCP não faz uma contratação certeira? Talvez Layún seja a única dos últimos 4 anos....e para ser suplente de Maxi, ao que parece.

Os paradigmas mudam e as instituições adaptam-se, umas mais rapidamente que outras. O FCP está pesado, monolítico, entregue a interesses e objetivos que não são os da vitória desportiva, da conquista de títulos, desligado dos adeptos e do seu sentir.

4 anos sem ganhar nada são um período curto na perspetiva histórica, mas longo o suficiente para analisarmos e concluirmos que é hora de esta Direção sair e de dar lugar a um paradigma de gestão novo, adaptado ao futebol do século XXI e ao novo contexto do futebol português e europeu. Não nos iludamos mais. Ou esta ruptura acontece já ou ficaremos muitos, muitos anos a definhar, sem garantias de que a reversibilidade deste processo seja alcançável. 

Este ano, que desportivamente já acabou, é a última oportunidade para essa mudança.


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