segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Obscuros enigmas do FC Porto: parte I, Vítor Pereira

Houve um tempo em que o gigantesco Império Otomano foi apelidado de “o homem doente da Europa” (alguns anos depois, o império desmembrou-se). Pois bem, hoje é o FC Porto quem está doente. Os sintomas são múltiplos e as causas várias, mas o que é preocupante é que o mal não está nem debelado nem sequer controlado, e as consequências podem ser fatais. Podem mesmo significar o fim do FC Porto como o conhecemos. É isto o que está em jogo, é esta a seriedade do problema.

Vou procurar publicar, em partes, uma enumeração das metástases que nos levaram ao ponto a que estamos hoje: desportivamente, num pólo quase oposto a Maio de 2011, quando tínhamos a Europa aos pés (passaram uns míseros 8 meses – o futebol, já sabemos, é o momento); e financeiramente, num buraco assustador para o qual tinham avisado há muito tempo uns poucos pregadores do deserto (nos quais tenho a honra, mas não a vontade, de me incluir).


O treinador do FC Porto em 2011/2012 chama-se Vítor Pereira. Como chegou este personagem a um dos empregos mais apetecíveis do futebol mundial, ele que ostenta no seu currículo o ilustre anonimato e a total irrelevância de ter treinado a Sanjoanense, o Espinho e o Santa Clara, já aí sem resultados?

Villas-Boas não tinha qualquer afinidade com Vítor Pereira – não foi AVB quem pediu para o contratarem para seu adjunto, ele foi sim imposto por Pinto da Costa. O enigma é: porquê? Uma pergunta ainda mais difícil de responder do que aquela outra: porque saíram do FC Porto todos os técnicos que tão bom trabalho fizeram no ano passado... menos Vítor Pereira?

VP é um atroz incompetetente, mas isso não é o pior. O pior é que é também um vaidoso: um atroz incompetente convencido que é o melhor treinador do mundo. O resultado era previsível – e foi previsto, por portistas de olhos bem abertos, tão cedo como em Julho do ano passado, quando um treinador fraco contratou para o auxiliar adjuntos fraquíssimos e sem qualquer experiência de exigência ao mais alto nível (Semedo nem sequer estava ligado ao futebol, Rui Quinta tinha acabado de passar um ano desempregado). Quando perder a Supertaça Europeia mais uma vez foi apresentado como "grande vitória moral".

Uma equipa de sonho em frangalhos: não há um único, mas nem sequer um único jogador que demonstre evolução em relação à época passada. Hell, não há sequer um jogador que se mantenha ao mesmo nível. Ao invés, todos sem exceção parecem sem vontade, sem físico, sem técnica, sem posicionamento, sem cabeça: perdidos em campo, com posições trocadas, em baixo de forma, não sabendo quando ir e quando ficar. Se a qualidade de um treinador se mede pelo que ele consegue extrair e potenciar nos seus jogadores, este é uma colossal menos-valia. E da soma de partes desvalorizadas se faz um todo ainda menos eficaz -uma equipa que não consegue virar um resultado negativo ou marcar um golo de bola parada, pelo contrário sofrendo muitos, no indício mais revelador da falta de qualidade dos treinos.

Um treinador que já conseguiu queimar quase tantos jogadores como Paulo Bento, promovendo para os seus lugares os medíocres que não questionam a sua falsa autoridade (Cristian Rodríguez e Djalma titulares em Alvalade, anyone?).

Um treinador que, no ano em que fomos finalmente cabeças de série no pote 1 da Europa (entre as 8 melhores equipas da Europa, portanto) conseguiu que saíssemos humilhados da Liga dos Campeões pelo Apoel de Chipre; que, no ano em que temos o maior orçamento de sempre do futebol português (algo que tem de ser sublinhado uma e outra vez) vai perder por culpa própria todos os títulos que tinha em disputa – e ainda mais um ou outro recorde irrepetível, como cereja no topo de um amargo bolo.

Vítor Pereira, se o isolarmos quimicamente, é um dos fatores mais importantes para a nossa época perdida. Está muito longe de ser o único – mas como é possível que hoje, dia 29 de Janeiro, 7 meses após o início da época, ainda não tenhamos uma equipa técnica digna da primeira divisão, quanto mais do FCP? Obscuro enigma.

2 comentários:

  1. Obviamente partilho a 100% a tua análise e opinião.
    Mas não deixa de ser curioso que quem o contratou e promoveu continue a passar "de fininho" por entre os pingos da chuva.
    O homem lá terá, e com toda a justiça, o nome no estádio, mas caramba! não podia dar sinais de vida agora que, mais do que nunca, precisamos de um presidente que nos tire deste buraco negro?

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