quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Os miseráveis

Há uma equipa de futebol que tem prazer em ser capitaneada por personagens execráveis. Em tempos foi um tal de Mozer, também já houve um Manuel Rui Costa, um Petit em cérebro e jeito para o futebol, ou um Sabrosa. Agora o capitão de serviço – supostamente o jogador mais ponderado, mais desportista, alguém a quem os restantes respeitam por nele reconhecerem liderança e exemplo – é um cabeçudo que agride à cabeçada um árbitro. Em pleno jogo. E isto para “defender” outro destacado carniceiro, seu colega (também ele já teve o prazer de ser capitão de equipa) que, por uma vez, se preparava para ver um cartão vermelho (o que indicia desde logo que o jogo não decorria em Portugal). As reações dos culpados variaram entre a negação, o sarcasmo e o insulto aos vários agredidos: árbitro, clube adversário e  espectadores. Os vídeos dos meios de comunicação alemães (os dos portugueses foram todos cuidadosamente censurad... editados) mostram os jogadores e o treinador do clube do regime a rir às gargalhadas com a situação criada pela violência a que recorreram.

Claro que estes factos, chocantes para todos aqueles que ainda acreditam que o futebol ainda é um desporto e que a sociedade em que nos movimentamos ainda se rege por normas éticas outras que a lei da selva, aconteceram em primeiro lugar porque a agremiação desportiva referida está, intramuros, muito acima da lei - à semelhança infelizmente do(s) regime(s) que tão fielmente representa. Em pormenor, os dois jogadores em questão, incapazes como são de pontapear corretamente uma bola de futebol, passam todo o seu tempo em campo nas mais diversas formas de jogo sujo, acertando sistematicamente nos colegas de profissão que tenham o azar de ser adversários. Javi Garcia, o racista que disse a Alan coisas muitíssimo mais nojentas que aquelas que valeram a Luis Suarez, do Liverpool, uma suspensão de oito jogos, não conseguiria terminar nenhum jogo arbitrado por um árbitro não servil; Luisão já se envolveu em incontáveis escaramuças de agressões sem bola, a última de que me lembro a um jogador do Nacional da Madeira que já estava no chão (porquê ser-se apenas animalesco quando se lhe pode juntar a covardia?). Impunes, impantes, nunca nada lhes aconteceu em Portugal, nem a um nem a outro - a não ser que fazer anúncios a cerveja choca seja considerado uma punição.

Perguntará o leitor, como reagiu a hierarquia de um clube desportivo centenário ao enésimo comportamento australopiteco destes seus sicários? Bom, o treinador encostou a chicla ao canto da boca e ostentou aquele sorrizinho à fato de treino de domingo que reserva para as ocasiões especiais, como esta aquiTrata-se do mesmo homem que também agrediu cobardemente em campo outro jogador do Nacional da Madeira – os maus exemplos vêm sempre de baixo – tendo por isso sido castigado com uns eternos 11 dias de suspensão (que corresponderam, por tremenda coincidência, a zero jogos). Este líder do balneário declarou dois dias depois da ofensa à integridade física (punível na Europa civilizada com pena de prisão) que o seu jogador agiu em defesa dos interesses da equipa, que está agora “mais unida”. Cheira-me a prémio e aumento de ordenado para Luisão.

Os outros apparatchiks de serviço no clube do regime ficaram “incrédulos”... com o comportamento do árbitro (um manhosão que só por levar uma cabeçada de um insurrecto com 1,93 m, 100 kg e a correr, caiu logo ao chão, em vez de responder com um gancho de direita, como esperado nestas ocasiões). Escarnecem do agredido e do clube anfitrião (a quem se recusam a devolver o cachet do jogo “amigável”, 200 mil euros) e apregoam aos seus copistas de serviço nos jornais as suas fanfarronices do costume, tipo "o grande capitão vai jogar em Braga". Fecha-se assim o círculo, dado que o clube do regime sempre representou tudo aquilo que Portugal tem de pior: a soberba, a chico-espertice, a saloiice, a inveja, a mediocridade, a falta de vergonha, o vale tudo, o lambe-botismo, o nacional-porreirismo, a impunidade. Está lá tudo.

E para memória futura: mais uma vez, e porque já não vivemos nos tempos a preto e branco do Calabote e doutras senhoras, nós VIMOS as imagens com os nossos próprios olhos, e SABEMOS o que aconteceu (e podemos revê-las aqui, por exemplo). Mas os aprendizes de Goebbels que lambem botas encarnadas em Portugal persistem em criar realidades alternativas. O comentador da Sport TV a relatar o jogo considerou a inaudita agressão “uma carga de ombro”. Nas notícias embaraçadas que foram obrigados a escrever sobre a bronca, os domesticados jornalistas escolheram pérolas como “árbitro apareceu estatelado após contacto com Luisão” (Bola), “empurrão” (Público), “árbitro parece ter sido empurrado” (Jogo), “forte encosto” (Record), “confusão com árbitro” (Sapo Desporto), “lance caricato” (Maisfutebol)... foi preciso ler sites brasileiros para ver escrita, em português, a palavra que principia a descrever os factos: AGRESSÃO. Lembrem-se disso da próxima vez que esta gente vos tentar vender algo.

Só para terminar que esta conversa sobre miseráveis já vai demasiado longa: Kobiashvili, do Hertha Berlin, deu um soco ao árbitro (não caiu) em Maio, no final do play-off da sua equipa contra... o Fortuna Dusseldorf. O futebolista georgiano foi suspenso por um ano.

10 comentários:

  1. De tudo o que li sobre o caso (incluindo o texto acima) apenas me revejo neste http://www.porta19.com/2012/08/racionalizacoes/

    O Café das Antas, muito parado nestes últimos meses, não deveria reaparecer para falar do Benfica e de um caso que nada tem a ver com o Porto.

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    1. Anónimo, registo as críticas construtivas. Pela minha parte vários bons motivos me têm impedido de escrever no Café nos últimos dois meses, o ritmo dos outros tertuliantes também baixou, mas penso que isso é natural sabendo que estávamos em defeso futebolístico. As cargas físicas vão agora aumentar para chegarmos a um pico de forma.

      Já quanto ao assunto não ser admissível estou em total desacordo. O FC Porto compete (infelizmente) no mesmo espaço e pelos mesmos objetivos desta agremiação sinistra e hipócrita, que utiliza armas desleais e um poderoso sistema de interesses instalados e inconfessados. Efetivamente não queremos ter nada a ver com eles, daí ser importante marcar desde logo as diferenças.

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    2. o assunto é adissivel claro. Apenas referi que gostaria de ter lido outra coisa que não algo a falar do Benfica. Mas claro que cada um escreve sobre o que quiser.

      De resto sobre o assunto em si, houve agressão sim senhor, por voltas que se dê, houve agressão (chamar-lhe cabeçada é que também é mentira). Dai a fazer disto um caso do outro mundo parece-me exagerado. O arbitro caiu de uma forma estranha (foi pena, levava a peitada, dava vermelho ao luisão e ao Javi e escrevia o que tinha de escrever no relatorio e as coisas eram mais faceis). A postura do SLB é muito triste, JJ ja nos habituou a dizer barbaridades, os colegas de equipa de Luisao fazem tristemente o papel a que sao obrigados.

      Mas tudo isso não justifica muitas reacçoes exageradas de muita gente. Puna-se o homem, que o puder fazer e pronto. Isto de andar a esfregar na cara um dos outros as coisas tristes não me parece que nos leve longe.

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    3. Voltando a este triste assunto... e ao "chamar-lhe cabeçada que é mentira": ver a partir de 2:07

      http://www.youtube.com/watch?v=S02IxFRIezs&feature=player_embedded

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  2. ... a Democracia e a Liberdade de Expressão são tão bonitas, não são?

    pois eu revejo-me (também) neste escrito, o qual está directamente relacionado com o meu clube do coração.
    senão vejamos:
    a postura de chacota de todo universo lampiónico coloca em causa, não só a idoneidade do Futebol Português (se é que ela existe), mas sobretudo a imagem do nosso FC Porto nesse "vasto território que dá pelo nome de Estrangeiro"®, pois (infelizmente) dele somos parte integrante.
    (a conferir na forma como seremos recebidos pela comunicação social dos países dos clubes adversários que nos calharão em sorte - ou azar - na fase de grupos da próxima edição da Champions. se nos calhar uma equipa alemã, então é que vai ser o bom e o bonito...)

    somos Porto!, car@go!
    «este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

    saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
    Miguel | Tomo II

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    1. "... a Democracia e a Liberdade de Expressão são tão bonitas, não são?" que eu saiba ninguém pôs isso em causa em lado algum neste artigo ou nos comentários.

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    2. eu sei que não o pôs em causa - nem sequer um qualquer administrador deste blogue, que lhe permitiu tecer uma crítica ao escrito em causa.

      é por isso que os valores que refiro - consubstanciados na Pluralidade de ideias e/ou opiniões - são "bonitos", são uma dádiva dos nossos antepassados que devemos cuidar e preservar. é que, ao contrário deste espaço de discussão pública, outros há onde o seu comentário iria imediatamente para o "arquivo geral".

      cumprimentos.

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  3. A sorte do Luisão foi ter batido no árbitro e não nos stewards, e de ter sido no campo e não no túnel.

    Sem tirar nada ao texto do Zero, lembro só que este caso está longe de ser único. Há o célebre João Vieira Pinto a dar um murro ao árbitro no mundial da Coreia; e há o impagável Zequinha e o seu cartão vermelho:

    http://www.youtube.com/watch?v=A6lXOljUTOU

    A cultura tuga do "pressionar o árbitro" inevitavelmente dá estes resultados no estrangeiro.

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  4. Pergunto eu, qual leigo: o melhor trinco da 2ª circular chegou a ver o vermelho, ou o encosto não o permitiu? Em todo o caso, esse vermelho origina uma suspensão para o jogo da 1ª jornada?

    Imagino os rios de tinta que correriam se tivesse sido algum jogador do clube com mais títulos em Portugal a cometer tal fortuito empurrão....

    Off-topic: após período de férias, devidamente homologado pelas autoridades que supervisionam as condições de trabalho, este Café voltará à sua actividade normal, como se impõe. Mas é sempre bom notar que já se dá pela sua ausência.

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  5. Segundo a imprensa é a FPF que vai ter de decidir o caso. Considerando a forma ememplar como a justiça desportiva tratou os castigos aos jogadores de FCP e Braga há três épocas atrás podemos estar descansados, será feita justiça...

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