segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Eu também queria muita coisa

“Agora finalmente a equipa está como eu quero”, disse o grande timoneiro após uma vitória confortável em Guimarães. Ninguém questionou porque é que demorou 20 meses para um treinador de futebol criar uma equipa do FC Porto que jogue bem e goleie a filial do clube do regime (o nosso ponto de partida não era exatamente uma equipa em cacos mas sim a máquina trituradora de Villas-Boas); pelo contrário, o comentário foi levado a sério e serviu não apenas para o treinador roubar qualquer tipo de mérito aos jogadores, mas deu  também luz verde para os acólitos do profeta saírem à rua e anunciarem a boa nova: Vítor Pereira, afinal, é um magnífico treinador de futebol. Nós, os que todos os dias esperamos (mais ou menos em vão) que o FC Porto jogue em grande, domine, ganhe e cresça ainda mais, é que teimamos em não o entender: ele é o homem certo no lugar certo.

É a minha equipa, é o que conta acima de tudo, e o seu destino é agora indissociável das qualidades de VP – logo, muito eu gostava que isto fosse mesmo assim e que o homem fosse o melhor do mundo desde Bobby Robson. Mas a realidade tem esta mania irritante de vir sempre ao de cima: neste caso, aconteceu mais cedo que tarde – e na oportunidade seguinte de mostrar uma equipa à imagem do seu treinador, demonstrando alguma consistência, perdemos ao invés dois pontos preciosíssimos em casa contra o Olhanense. Com mais uma exibição ingénua, trapalhona e sem nexo, de futebol cheio de vontade mas jogado sem qualquer discernimento ou ideias claras sobre a melhor forma de contornar o adversário. Ou seja, o habitual. Em vez de ganhar fôlego e alento para a fase difícil que vai começar agora, voltaram as dúvidas. Não basta dizer que se quer uma coisa para que ela aconteça.

Tenho dito entre o meu círculo de amigos que acredito que o FC Porto será campeão se o outro candidato chegar ao Dragão, na penúltima jornada, com três pontos ou menos de avanço – porque acredito que no confronto direto, a ser mesmo necessário, venceremos esse jogo decisivo. Mas também digo que estou muito preocupado, porque o FC Porto tem muito mais tendência a perder pontos estúpidos pelo caminho que o clube do regime. O jogo de hoje reforçou a minha convicção, porque alguma vez teríamos de pagar pelos erros de planificação que vamos acumulando. Refiro aqui alguns – só de passagem, mesmo que cada um destes quase justificasse um artigo por si só:

A estado lastimável do nosso (segundo esta época) relvado já provocou directamente pelo menos duas lesões (James, obrigado a voltar contra o Nacional quando ainda não estava curado, e que assim nos deixou órfãos para tantos jogos cruciais da época; e Varela, hoje, que escorregou e se lesionou no momento em que fazia um cruzamento perigosíssimo) e incontáveis oportunidades falhadas (das quais a mais óbvia o penalti falhado hoje).

Os dois piores jogadores em campo foram as nossas compras sonantes de mercado de inverno, Izmaylov e Liedson, ambos antigos jogadores do Sporting na década passada, e ao arrepio de todos os nossos padrões de contratação tão elogiados no passado (jogadores baratos da liga portuguesa quando não tínhamos dinheiro; sul-americanos jovens para rentabilizar, quando o passamos a ter). Espero mesmo que um dia estes dois novos dragões não sejam considerados case study de elevado custo de oportunidade – dado que para termos aqueles, faltam-nos dois jogadores que podiam eventualmente ainda ter joelhos. Nomeadamente poderíamos ter extremos em vez de jogar num apenas teórico 4-3-3 em que toda a gente está concentrada na faixa central do terreno – e será isso tão estranho quando temos que jogar com Sebá e Tozé nas alas? Bruno Gama, Ukra ou até Targino (!) seriam neste momento mais úteis (nem falo de Quaresma).

E finalmente, o embandeirar em arco – é muito bom ter orgulho e a do FC Porto é a única camisola que eu visto, exatamente por um grande orgulho nela. Ao mesmo tempo, uma das razões que sempre me fez identificar com este clube é uma certa cultura da excelência, do trabalho, e porque não dizê-lo, uma certa humildade. Ou pelo menos, a ausência da arrogância e da bazófia características de clubes ridículos (vocês sabem de quem estou a falar) ou de outros clubes europeus como o Madrid, o Bayern, o United ou a Juventus. Ora, isso está em risco, e numa altura em que nada ganhámos e tudo está muito em aberto, tenho já ultimamente visto muita garganta vinda dos nossos lados, assim como grande destaque a profusos elogios vindos de hienas que só nos querem mal. Isso também se paga com empates em casa contra o Olhanense.

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