segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Coisas que deveriam dar que pensar...

...À administração da SAD, à estrutura do futebol e/ou a quem toma decisões no FCP. Não incluo neste lote o treinador pois este, apesar de "confiar inteiramente nas suas capacidades" (sic), parece ser um homem em negação da realidade, incapaz de impor a sua liderança ou sistema (?) de jogo e, do nosso ponto de vista, atingiu já um ponto de não retorno na sua capacidade de fazer do FCP uma verdadeira equipa de futebol.



                                                            Foto: o Jogo

Para a gerência deste Café, o que tem vindo a acontecer nas ultimas semanas e que culminou com o desaire deste fimde-semana, deve dar muito que pensar a todos aqueles que não se podem conformar com o actual estado de coisas:

1. O FCP passou, em três jornadas, de líder isolado com 5 pontos a terceiro classificado com 2 pontos de atraso. Três jogos em que a mediocridade exibicional que tem caracterizado a equipa não beneficiou da sorte ou do acaso, traduzindo-se em três justos resultados contra equipas que, talvez com excepção da Académica, se encontram no lote das mais fracas da liga portuguesa. E o FCP recebe o Braga na próxima jornada;

2. Ao fim de 11 jornadas, já parecem faltar justificações para o pobre futebol apresentado pelo FCP. Ao benefício da dúvida que sempre devemos dar a qualquer treinador que inicia funções, e que este Café corroborou, substitui-se agora uma enorme interrogação sobre o sistema táctico que o FCP 2013/14 apresenta, com um meio campo desorganizado e à procura  de perceber, tal como todos nós, o que é isso do "duplo pivô", uma defesa que soma a uma apatia e desconcentração invulgares, uma sucessão de erros toleráveis numa equipa de juvenis, e um ataque sem imaginação, sem acutilância, sem objectividade e com  muito poucas soluções dignas desse nome;

3."Errare humanus est, perseverare diabolicum". Muita gente conhece e usa, parcialmente, esta expressão latina que começa por dizer que errar é humano. Porém, poucos a usam na sua versão completa, que afirma que, apesar de errar ser humano, persistir no erro é diabólico ("perseverare diabolicum"). Paulo Fonseca tem persistido em dois erros que, a nosso ver, são fatais:

i) o sistema táctico que quer impor não resulta numa equipa como o actual FCP, e

ii)PF persiste em não o reconhecer, por teimosia, incapacidade ou arrogância. Um treinador que afirma que o FCP actual seria uma equipa perfeita se afinasse a finalização, dou por perdido o tempo que possa passar a compreendê-lo;

O sistema do duplo pivô no meio campo, ie, Fernando + 1 jogador de características "semelhantes" a jogar a seu lado (já foram Defour, Herrera e até Josué!) é contra-natura para uma equipa que joga ao ataque em 90% dos jogos (e não no contra-ataque, como o Paços de Ferreira) e tem um duplo efeito negativo: os jogadores do meio campo não encontram o posicionamento correcto em campo e com isso, além de desprotegerem a defesa, deixando imenso espaço para o adversário atacar (o que ajuda a explicar parte dos inúmeros golos sofridos esta época), também não são capazes de acompanhar o ataque com a intensidade necessária para o apoiar e criar situações de perigo, pois a desorganização entre sectores é tal que não ocupam os espaços necessários. 

Se olharmos para o modo como o FCP de Paulo Fonseca defende e ataca, é confrangedor ver o enorme espaço entre os sectores, a desconexão entre os três, e fica-se sempre com a impressão de que, quer o FCP esteja a atacar, quer esteja a defender, está sempre em inferioridade numérica!! E não vale a pena justificar com as elevadas percentagens de posse de bola: estas resultam, quase sempre, de um domínio consentido pelo adversário e que faz parte da respectiva estratégia (como no jogo com o Nacional!);

4. O desequilíbrio do plantel: como é possível o FCP ter, na sua defesa, um lateral (Danilo) de 16 milhões de euros, um central (Reyes) de 8 milhões que nem convocado é, mas não ter extremos? Num sistema táctico que precisaria de jogadores de qualidade nessa posição, para dar acutilância e rapidez, como é que se achou que Licá, Varela e Ricardo seriam suficientes para uma equipa com as aspirações e o nível de exigência do FCP? Como se deixa sair Iturbe, que mais uma vez, brilha em todo o lado menos no FCP, como não se aproveita Kelvin, como é que a prospecção do FCP só encontra laterais de milhões ou um avançado como Ghilas, que afinal tem um passe de 7 milhões do qual o FCP pagou metade, mas que não joga, mesmo que Jackson esbanje a sua arrogância profissional e competitiva jogo após jogo? 

5. A motivação e o prestígio: tem sido tema recorrente no FCP das últimas temporadas a gestão de expectativas dos jogadores. Diríamos que o FCP é vítima do seu próprio sucesso: as sucessivas vitórias e conquistas, sobretudo na última década,  têm resultado em excelentes negócios em termos de vendas de jogadores, e também num trampolim para que estes mesmos jogadores assinem contratos com salários milionários. Esta realidade tem funcionado como atractivo para que os jogadores queriam vir jogar para o FCP, pois às vitórias alcançadas juntar-se uma montra internacional que permitirá o salto para outros voos. 

Ora, a gestão das expectativas dos jogadores é fundamental para o equilíbrio mental e competitivo da equipa: se os jogadores sentem que podem sair, e se a administração entende que ainda não é o momento (inúmeros casos, desde Deco a Falcao, passando por Moutinho e Hulk), é preciso convencê-los de que vale a pena ficar, por fazerem parte de um projecto que é maior que as vontades individuais, mas que é um projecto de mais vitórias e de mais ambição, que resultará em maior projecção e que isso é benéfico para as aspirações individuais de cada um deles. O caso mais exemplificativo esta época é o de Jackson Martinez: a SAD decidiu, e bem, mantê-lo, mas é notório que o jogador está contrariado e insatisfeito. Longe de o querer desculpar, pois sou daqueles que romanticamente acha que jogar no FCP é recompensa suficiente, acho que, se disseram a Jackson que valia a pena ficar pois o FCP ia jogar a sério na Champions, em ano de Mundial, que ia ter uma equipa competitiva e a marcar golos, ele deve estar a perguntar-se onde está tudo isso agora;

6. O planeamento  e a gestão estratégica do futebol: esta (falta de) gestão de expectativas tem tido casos flagrantes de desvalorização de activos, dos quais Rolando e Álvaro Pereira são os casos mais recentes. Porém, parece-nos que o problema é mais fundo: o FCP tem um plantel desequilibrado e isso resulta também do insuficiente estudo do mercado e das necessidades da equipa. Exemplos? O FCP tem 4 centrais que podem ser titulares, mas não tem substitutos para os dois laterais. O FCP tem Fernando, Defour, Herrera, Josué, Carlos Eduardo, Izmaylov (???) mas não tem extremos. O FCP tem Ghilas, mas não joga. Mas não tem mais avançados. Ainda não há muitos tempo, fizemos uma época com Kléber e Walter como opções....Ninguém pensa nisto? Remendámos, há tempos, com Lucho e Janko, em janeiro. Este ano, consta que Quaresma está a caminho, depois de 6 meses parado...;

7. O sentimento dos adeptos: a gerência deste Café nunca poderá endossar actos de violência e intimidação. Mas a reacção à chegada do autocarro do FCP ao estádio do Dragão ontem deve dar que pensar aos jogadores, equipa técnica e direcção: este cluve não está habituado a conformar-se com mediocridade, exige sempre entrega, dedicação e profissionalismo no máximo. Mesmo quando se perde. E essa entrega não existe actualmente;


8. Ser Porto é olhar para que têm sido as últimas épocas e não aceitar que o clube seja palco de experimentalismos. As três última escolhas de treinador (AVB, VP e PF) foram puro experimentalismo: três treinadores sem qualquer crédito firmado e que serviriam para demonstrar a sabedoria e sagacidade estratégica da estrutura do FCP. Se a primeira correu muitíssimo bem, a segunda escapou ao criticismo mais generalizado pois o FCP foi bi campeão apesar de um futebol pobre e de campanhas europeias fracas. PF, por seu lado, esgotou o estado de graça em tempo recorde (12 jornadas e 5 jogos na Champions): a equipa tem vindo a jogar cada vez pior, o treinador nega as evidências ("o melhor FCP da época" depois do jogo com o nacional) e os jogadores cada vez mais displicentes, sem comando, sem organização.


Pinto da Costa não precisa de provar nada a ninguém sobre o carácter certeiro das suas escolhas: a história do FCP fala por si e confunde-se com as decisões acertadas do Presidente. Mas também se engana. Errar é humano. Mas persistir é diabólico. Saber reconhecê-lo a tempo de salvar ainda esta época seria o sinal de que todos precisamos para ter a certeza de que o ciclo de histórica liderança de Pinto da Costa não acabou. E que a SAD do FCP continua a ser a estrutura profissional e orientada para os resultados desportivos que conhecemos e apreciamos.

Desde 2004/05 que o FCP não estava três jogos seguidos sem ganhar. E todos nos lembramos de como essa época foi única, de tão penosa. Substituir o treinador não resolverá todos os problemas do FCP 2013/14. Mas será um sinal de que alguns destes problemas não atingiram a gravidade que muitos de nós receiam..

5 comentários:

  1. Grande post BP, estou completamente de acordo com cada palavra.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. D. Pedro, grande abraço. Vê se voltas a estas lides.

      Eliminar
  2. Que esta crise de resultados e exibições permita fazer uma alteração profunda de coisas que estão mal na SAD e que ciclicamente se agravam depois de grandes conquistas da equipa ( pos champions, pos liga europa ).
    Lá porque a caixa registadora está cheia não quer dizer que o gerente possa desatar a meter ao bolso o dinheiro em vez de investir verdadeiramente na empresa.... Nestes tempos a SAD faz negócios pela comissão distribuida ( mexicanos, ghilas etc ) e não pelo interesse desportivo e financeiro futuro dos atletas.
    Temos um plantel da equipa A e já agora da equipa B muito extenso e paradoxalmente deficitário das reais necessidades das equipas, nomeadamente na escassez de extremos para jogarem na frente... arrisco-me a dizer que em mais de 40 jogadores não existe um único extremo capaz ( quando outros clubes os têm a mais e sem saber o que fazer com eles ).

    Os resultados e apenas os resultados mascaram a triste realidade destes dois anos e meio de futebol fraco e previsivel - melhores indicadores não houvessem, pegue-se nas assistências no Estádio do Dragão em queda contínua desde a ascensão do VP....

    Esta é a única janela de oportunidade possível para alterar um treinador a meio da época sem dar a mesma por hipotecada... o jogo no galinheiro é só em Janeiro, vem aí a pausa de Natal e abre o mercado para ajustes no plantel... Ou se faz agora ou se faz quando o campeonato estiver entregue...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Inteiramente de acordo, Luis C. A questão das assistências aos jogos é outra das que deveriam dar que pensar, até pelo impacto financeiro que tem!

      Esta é, de facto, a janela de oportunidade para ainda inverter um rumo que, caso contrário, nos conduzirá a uma época de resultados desastrosos.

      Eliminar
    2. Tanto mal diziam do Pereira, era 100 vezes melhor que este fraquinho!

      Eliminar