...À
administração da SAD, à estrutura do futebol e/ou a quem toma decisões no FCP.
Não incluo neste lote o treinador pois este, apesar de "confiar inteiramente nas suas capacidades" (sic), parece ser um homem em negação
da realidade, incapaz de impor a sua liderança ou sistema (?) de jogo e, do
nosso ponto de vista, atingiu já um ponto de não retorno na sua capacidade de
fazer do FCP uma verdadeira equipa de futebol.
Foto: o Jogo
Para
a gerência deste Café, o que tem vindo a acontecer nas ultimas semanas e que
culminou com o desaire deste fim‑de-semana, deve dar muito que pensar a todos aqueles que não se podem conformar com o
actual estado de coisas:
1.
O
FCP passou, em três jornadas, de líder isolado com 5 pontos a terceiro
classificado com 2 pontos de atraso. Três jogos em que a mediocridade
exibicional que tem caracterizado a equipa não beneficiou da sorte ou do acaso,
traduzindo-se em três justos resultados contra equipas que, talvez com excepção
da Académica, se encontram no lote das mais fracas da liga portuguesa. E o FCP recebe o Braga na próxima jornada;
2. Ao
fim de 11 jornadas, já parecem faltar justificações para o pobre futebol
apresentado pelo FCP. Ao benefício da dúvida que sempre devemos dar a qualquer
treinador que inicia funções, e que este Café corroborou, substitui-se agora
uma enorme interrogação sobre o sistema táctico que o FCP 2013/14 apresenta,
com um meio campo desorganizado e à procura de perceber, tal como todos nós, o que é isso do "duplo
pivô", uma defesa que soma a uma apatia e desconcentração invulgares, uma
sucessão de erros toleráveis numa equipa de juvenis, e um ataque sem imaginação,
sem acutilância, sem objectividade e com
muito poucas soluções dignas desse nome;
3."Errare humanus est, perseverare
diabolicum". Muita
gente conhece e usa, parcialmente, esta expressão latina que começa por dizer
que errar é humano. Porém, poucos a usam na sua versão completa, que afirma
que, apesar de errar ser humano, persistir no erro é diabólico
("perseverare diabolicum"). Paulo Fonseca tem persistido em dois
erros que, a nosso ver, são fatais:
i) o sistema
táctico que quer impor não resulta numa equipa como o actual FCP, e
ii)PF
persiste em não o reconhecer, por teimosia, incapacidade ou arrogância. Um treinador que afirma que o FCP actual seria uma equipa perfeita se afinasse a finalização, dou por perdido o tempo que possa passar a compreendê-lo;
O sistema do duplo pivô no meio campo,
ie, Fernando + 1 jogador de características "semelhantes" a jogar a
seu lado (já foram Defour, Herrera e até Josué!) é contra-natura para uma
equipa que joga ao ataque em 90% dos jogos (e não no contra-ataque, como o
Paços de Ferreira) e tem um duplo efeito negativo: os jogadores do meio campo não
encontram o posicionamento correcto em campo e com isso, além de desprotegerem
a defesa, deixando imenso espaço para o adversário atacar (o que ajuda a
explicar parte dos inúmeros golos sofridos esta época), também não são capazes
de acompanhar o ataque com a intensidade necessária para o apoiar e criar situações
de perigo, pois a desorganização entre sectores é tal que não ocupam os espaços
necessários.
Se olharmos para o modo como o FCP de Paulo Fonseca defende e
ataca, é confrangedor ver o enorme espaço entre os sectores, a desconexão entre
os três, e fica-se sempre com a impressão de que, quer o FCP esteja a atacar,
quer esteja a defender, está sempre em inferioridade numérica!! E não vale a pena justificar com as elevadas percentagens de posse de bola: estas resultam, quase sempre, de um domínio consentido pelo adversário e que faz parte da respectiva estratégia (como no jogo com o Nacional!);
4. O
desequilíbrio do plantel: como é possível o FCP ter, na sua defesa, um lateral
(Danilo) de 16 milhões de euros, um central (Reyes) de 8 milhões que nem
convocado é, mas não ter extremos? Num sistema táctico que precisaria de
jogadores de qualidade nessa posição, para dar acutilância e rapidez, como é
que se achou que Licá, Varela e Ricardo seriam suficientes para uma equipa com
as aspirações e o nível de exigência do FCP? Como se deixa sair Iturbe, que
mais uma vez, brilha em todo o lado menos no FCP, como não se aproveita Kelvin,
como é que a prospecção do FCP só encontra laterais de milhões ou um avançado
como Ghilas, que afinal tem um passe de 7 milhões do qual o FCP pagou metade,
mas que não joga, mesmo que Jackson esbanje a sua arrogância profissional e
competitiva jogo após jogo?
5. A
motivação e o prestígio: tem sido tema recorrente no FCP das últimas temporadas
a gestão de expectativas dos jogadores. Diríamos que o FCP é vítima do seu próprio
sucesso: as sucessivas vitórias e conquistas, sobretudo na última década, têm resultado em excelentes negócios em
termos de vendas de jogadores, e também num trampolim para que estes mesmos
jogadores assinem contratos com salários milionários. Esta realidade tem
funcionado como atractivo para que os jogadores queriam vir jogar para o FCP,
pois às vitórias alcançadas juntar-se uma montra internacional que permitirá o
salto para outros voos.
Ora, a gestão das expectativas dos jogadores é
fundamental para o equilíbrio mental e competitivo da equipa: se os jogadores
sentem que podem sair, e se a administração entende que ainda não é o momento
(inúmeros casos, desde Deco a Falcao, passando por Moutinho e Hulk), é preciso
convencê-los de que vale a pena ficar, por fazerem parte de um projecto que é
maior que as vontades individuais, mas que é um projecto de mais vitórias e de
mais ambição, que resultará em maior projecção e que isso é benéfico para as
aspirações individuais de cada um deles. O caso mais exemplificativo esta época
é o de Jackson Martinez: a SAD decidiu, e bem, mantê-lo, mas é notório que o
jogador está contrariado e insatisfeito. Longe de o querer desculpar, pois sou
daqueles que romanticamente acha que jogar no FCP é recompensa suficiente, acho
que, se disseram a Jackson que valia a pena ficar pois o FCP ia jogar a sério
na Champions, em ano de Mundial, que ia ter uma equipa competitiva e a marcar
golos, ele deve estar a perguntar-se onde está tudo isso agora;
6. O
planeamento e a gestão estratégica
do futebol: esta (falta de) gestão de expectativas tem tido casos flagrantes de
desvalorização de activos, dos quais Rolando e Álvaro Pereira são os casos mais
recentes. Porém, parece-nos que o problema é mais fundo: o FCP tem um plantel
desequilibrado e isso resulta também do insuficiente estudo do mercado e das
necessidades da equipa. Exemplos? O FCP tem 4 centrais que podem ser titulares,
mas não tem substitutos para os dois laterais. O FCP tem Fernando, Defour,
Herrera, Josué, Carlos Eduardo, Izmaylov (???) mas não tem extremos. O FCP tem
Ghilas, mas não joga. Mas não tem mais avançados. Ainda não há muitos tempo,
fizemos uma época com Kléber e Walter como opções....Ninguém pensa nisto? Remendámos,
há tempos, com Lucho e Janko, em janeiro. Este ano, consta que Quaresma está a caminho, depois
de 6 meses parado...;
7. O
sentimento dos adeptos: a gerência deste Café nunca poderá endossar actos de
violência e intimidação. Mas a reacção à chegada do autocarro do FCP ao estádio
do Dragão ontem deve dar que pensar aos jogadores, equipa técnica e direcção: este cluve não está habituado a conformar-se com mediocridade, exige sempre entrega,
dedicação e profissionalismo no máximo. Mesmo quando se perde. E essa entrega não
existe actualmente;
8. Ser Porto é olhar para que têm sido as últimas épocas e não aceitar que o clube
seja palco de experimentalismos. As três última escolhas de treinador (AVB, VP
e PF) foram puro experimentalismo: três treinadores sem qualquer crédito firmado e que serviriam para demonstrar a sabedoria e sagacidade estratégica da estrutura do FCP. Se a primeira correu muitíssimo bem, a
segunda escapou ao criticismo mais generalizado pois o FCP foi bi campeão
apesar de um futebol pobre e de campanhas europeias fracas. PF, por seu lado,
esgotou o estado de graça em tempo recorde (12 jornadas e 5 jogos na Champions):
a equipa tem vindo a jogar cada vez pior, o treinador nega as evidências
("o melhor FCP da época" depois do jogo com o nacional) e os jogadores
cada vez mais displicentes, sem comando, sem organização.
Pinto da Costa não precisa de provar nada
a ninguém sobre o carácter certeiro das suas escolhas: a história do FCP fala por si e confunde-se com as decisões acertadas do Presidente. Mas também se engana. Errar é humano. Mas persistir é diabólico. Saber
reconhecê-lo a tempo de salvar ainda esta época seria o sinal de que todos
precisamos para ter a certeza de que o ciclo de histórica liderança de Pinto da
Costa não acabou. E que a SAD do FCP continua a ser a estrutura profissional e
orientada para os resultados desportivos que conhecemos e apreciamos.
Desde 2004/05 que o FCP não estava três jogos seguidos sem ganhar. E todos nos lembramos de como essa época foi única, de tão penosa. Substituir o treinador não resolverá todos os problemas do FCP 2013/14. Mas será um sinal de que alguns destes problemas não atingiram a gravidade que muitos de nós receiam..