domingo, 10 de abril de 2016

Se este era o primeiro jogo do resto da nossa vida...

.... começámos mal. Ou melhor, nada mudou. 

Aproveito o ensejo de mais um paupérrimo jogo do FCP nesta temporada para comentar a entrevista que o atual e futuro Presidente do FCP deu, esta semana, ao Porto Canal. Por paradoxal que possa parecer, e ainda que o teor da entrevista não traga absolutamente nada de animador ou positivo,  tocou (praticamente) todos os pontos fulcrais do momento atual do FCP.

No jogo de hoje, o FCP foi uma equipa sem confiança, sem ideias, sem colectivo nem individualidades que possam arrastar positivamente a equipa (Brahimi dificilmente perceberá, algum dia, o conceito de talento individual ao serviço da equipa), atabalhoada e sem rasgo. Pior do que isso, poucos terão visto ou ouvido a mensagem assertiva (sic) do Presidente na entrevista, em que anunciou que teríamos "seis jogos, de pré-época, para mostrar quem tem valor e carácter para jogar aqui. Quem não mostrar, não fica no FCP." Findo o primeiro desses seis jogos, é e devolver a pergunta: se a época acabasse hoje, quem ficaria? Maxi e Layún, pelo esforço?

Enfim, a entrevista. Pinto da Costa apareceu humilde e menos desafiador do que é costume, o que é bastante sintomático. Há três aspectos da entrevista ou com ela relacionados que gostaria de sublinhar:

1. Pinto da Costa é parte do problema atual do FC Porto, mas é, simultaneamente, a única saída possível para esta situação. Pode parecer contraditório, mas tento explicar. Os erros sucessivos das últimas épocas, causados por dois factores endógenos (sobranceria, por se achar que qualquer um pode treinar o FCP e que os jogadores aprendem a jogar lá, e aburguesamento, associado ao deslumbramento das grandes conquistas e negócios associados), e um exógeno (substancial melhoria do principal rival, em termos de estrutura e de política de contratações), colocam o Presidente como o responsável máximo por esta prolongada crise, que não começou com Paulo Fonseca, mas ainda com Vítor Pereira - os sucessos, in extremis, dessas duas épocas, apenas adiaram a situação actual. Porém, a) não há alternativas à vista nem o clube pode estar à mercê de arrivistas que cederiam à rápida tentação de mudar tudo, apenas para mostrar força e vigor; b) ninguém conhece tão bem o FCP, suas forças e fraquezas, e o futebol português, em todas as suas variáveis, como Pinto da Costa. A incógnita é: conseguirá MESMO fazer o diagnóstico deste momento e virar o rumo? É na resposta a esta pergunta que jogará o seu legado;


2. Os erros na escolha do treinador e na formação do plantel: Pinto da Costa já cometeu muitos erros na escolha de treinadores. Lopetegui foi, na minha modesta opinião, o erro mais grosseiro de todos. Tenho dificuldade em encontrar um, apenas um, motivo sério para que o FCP tenha contratado este treinador: foi um futebolista sofrível e de segundo plano, não tinha qualquer experiência de direcção de clubes ao mais alto nível, revelou um total desconhecimento do futebol português e seus protagonistas, nunca teve a humildade de reconhecer um erro sequer e revelava um discurso alienado da realidade concreta de um clube como o FCP ("queremos continuar a ser protagonistas, con mucha ilusión...)". Apresentava como credenciais os títulos conquistados nas camadas jovens das selecções espanholas, sempre em competições a eliminar (não em provas de regularidade) e com a matéria-prima dos clubes. 

Lopetegui foi um erro em três momentos: i) contratá-lo foi um auto de fé; ii) dar-lhe carta branca nas decisões do futebol, com dinheiro para gastar, foi uma irresponsabilidade; iii) mantê-lo no final da primeira época, quando era óbvio para qualquer adepto que nunca ganharíamos nada com ele, foi um acto de gestão baseado na teimosia e na soberba.

Porém, mais grave do que contratar Lopetegui, foi dar-lhe dinheiro e liberdade para formar o plantel a seu bel-prazer, contratando inúmeros jogadores absolutamente medíocres (Angel, Campaña, Adrien Lopez, Imbula, Martins Indi, Marcano, Andres Hernandez, Marcano, Corona, Dani Osvaldo), apostando num modelo de alto risco, com jogadores emprestados (Tello, Oliver e Casemiro), ou seja, que exigiam um sucesso desportivo imediato, pois era o único vector de mais-valia para o clube, alienando activos com mística e peso no FCP (Quaresma) e contratando jogadores de créditos formados nos quais nunca apostou (Bueno). Além disso, lançou UM jovem da formação (Rúben Neves) e revelou uma total inabilidade na construção de um plantel equilibrado: o FCP 2015-16 não tem um central digno desse nome; tem vários médios de características iguais (Ruben, Herrera, André André, Evandro, Imbula, Sérgio Oliveira), mas não tem um médio criativo (Quintero, Josué e Otávio foram dispensados e emprestados); não tem um extremo capaz de dar velocidade e profundidade (preferiu Varela a Quaresma, dispensar Hernâni e Ricardo Pereira, alienar Tello...) e, finalmente, não se investiu num avançado capaz de, num campeonato medíocre-médio como é o português, marcar 20 golos. 

Se olharmos para os principais rivais do FCP, basta citarmos um par de exemplos: o SCP contratou Slimani por 300 mil euros e o FCP pagou quase 4M por metade do passe de Ghilas; o SLB contratou Jonas a custo zero, Mitroglou e Jimenez (que esteve com os dois pés no FCP...) emprestados com opção de compra....e o FCP foi contratar Marega e José Sá por quase 4M de euros..

Faltou a Pinto da Costa dizer que o FCP está a redefinir o seu departamento de scouting e de contratações. O plantel de 2016-17 terá de ser refeito na íntegra, confirmado a prometida revolução que o Presidente anunciou. Faltou-lhe foi dizer que essa revolução aconteceu no ano Lopetegui 1 (com a enxurrada de contratações), e no ano Lopetegui 2 (saíram Danilo, Alex Sandro, Casemiro, Oliver, Quaresma e Jackson do onze titular, além de Fabiano...). A diferença poderá estar no facto de se promover, agora, uma revolução feita por profissionais..

Uma nota final: o SCP tem Rui Patrício, Adrien, William Carvalho, João Mário na equipa titular, além de Gelson, Esgaio e Ruben Semedo nas preferências habituais; o SLB tem André Almeida, Lindelof, Renato Sanchez, Nélson Semedo nos titulares, além de Gonçalo Guedes. E o FCP? Ruben Neves de vez em quando e o Rafa regressa na próxima época...André Silva, Gonçalo Paciência, etc.....não contam.

3. Os jogadores à Porto: com que cultura de clube? Jogadores à Porto conhecem o clube e o que ele significa, sabem o seu lugar na estrutura e NUNCA acham que estão acima deles. Mas se o clube não tem liderança, se a equipa é comandada por um treinador sem competência, se as derrotas se tornam banais e o novo normal, quem sente a camisola? Talvez os jovens da formação...


Dois aspectos não foram mencionados por Pinto da Costa, e bem, mas é imperioso que estejam no seu subconsciente (actualmente) revolucionários: os rivais (SLB e SCP) estão muito mais fortes e acutilantes do que há uns anos, o que torna a missão de voltar às vitórias muito mais difícil; José Peseiro foi uma terceira escolha, num contexto em que nenhum treinador de primeira linha aceitaria sair de onde estava para vir penar até final da época. Ninguém levará a sério esta refundação que Pinto da Costa quer promover se Peseiro for o treinador para a próxima época.

 O FCP deixou escapar Leonardo Jardim, Jorge Jesus, Marco Silva em momentos cruciais. Não podemos voltar a cometer erros destes, Toques de Midas já não existem no futebol do século XXI.

1 comentário:

  1. Como foi referido por PdC é necessária uma revolução séria no FC Porto. Espero que seja especialmente ao nível da atitude!

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